478
A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

arqueiam; dos beiços arreganhados romperam, em rugidos, em grunhidos, ultrages e ameaças contra Tructesindo covarde, e contra toda a raça de Ramires, que elle emprasava, dentro do anno, para as labaredas do Inferno! Indignado, um Cavalleiro de Santa Ireneia agarrou uma bésta de garrunche, a que retesou a corda.

Mas D. Garcia deteve o arremesso:

— Por Deus, amigo! Não roubeis ás sanguesugas nem uma pinga d’aquelle sangue fresco!... Vêde como veem! vêde como veem!

Na agoa espessa, em torno ás coxas mergulhadas do Bastardo, um fremito corria, grossas bolhas empolavam, — e d’ellas, mollemente, uma bicha surdio, depois outra e outra, lusidias e negras, que ondulavam, se collavam á branca pelle do ventre, d’onde pendiam, chupando, logo engrossadas, mais lustrosas com o lento sangue que já escorria. O Bastardo emmudecera — e os seus dentes batiam estridentemente. Enojados, até rudes peões desviaram a face cuspindo para as urzes. Outros, porém, chasqueavam, assuavam as bichas, gritando — a elle, donzellas! a elle!E o gentil Çamora de Cendufe, clamava rindo contra tão ensossa morte! Por Deus! Uma apostura de bichas, como a enfermo d’almorreimas. Nem era sentença de Rico-Homem — mas receita d’herbanista moiro!