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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

cingindo as ameias, enchia de claridade, Gonçalo, erguendo a gola do paletot na aragem mais fina, teve a dilatada sensação de dominar toda a Provincia, e de possuir sobre ella uma supremacia paternal, só pela soberana altura e velhice da sua torre, mais que a Provincia e que o Reino. Lentamente caminhou em roda das ameias, até ao miradouro, a que um candieiro de petroleo, sobre uma cadeira de palhinha posta em frente á fresta, estragava o entono feudal. No céo macio, mas levemente enevoado, raras estrellas luziam, sem brilho. Por baixo a quinta, toda a largueza dos campos, a espessura dos arvoredos se fundiam em escuridão. Mas na sombra e silencio, por vezes além, para o lado dos Bravaes, lampejavam foguetes remotos. Um clarão amarellado e fumarento, caminhando mais longe, entestando para a Finta, era de certo um rancho com archotes festivos. Na alta Egreja da Velleda tremeluzia uma illuminação vaga, rala. Outras luzes, incertas através do arvoredo, riscavam o velho arco do Mosteiro, em Santa Maria de Craquêde. Da terra escura subia, por vezes, um errante som de tambores. E lumes, fachos, abafados rufos, eram dez freguezias celebrando amoravelmente o Fidalgo da Torre, que lhes recebia o amor e o preito no eirado da sua torre, envolto em silencio e sombra.

O Bento descera, com o Joaquim, para reforçar