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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

altas ruinas de Santa Maria de Craquêde, entre o seu denso arvoredo. Sob o arco, o rio cheio corria sem um rumor, já dormente na sombra dos choupos finos, onde ainda passaros cantavam. E na volta da estrada, por cima dos alamos que escondiam o casarão, a velha Torre, mais velha que a Villa e que as ruinas do Mosteiro, e que todos os casaes espalhados, erguia o seu esguio miradoiro, envolto no vôo escuro dos morcegos, espreitando silenciosamente a planicie e o sol sobre o mar, como em cada tarde d’esses mil annos, desde o Conde Ordonho Mendes.

Um pequeno com uma alta aguilhada passou, recolhendo duas vaccas lentas. Do lado da Villa, o padre José Vicente da Finta trotou na sua egoa branca, saudou o Snr. Administrador, o amigo Sueiro, abençoando tambem a chegada do Fidalgo para quem já preparára uma bella cesta da sua uva moscatel. Trez caçadores, com uma matilha de coelheiras, atravessaram a estrada, descendo pelo portello á quelha que contorna o casal do Miranda.

Um silencio ainda claro, de immenso repouso, tão doce como se descesse do ceu, cobria a largueza povoada dos campos, onde não se movia uma folha, na macia transparencia do ar de Setembro. Os fumos das lareiras accesas já se escapavam, lentos e leves, d’entre a telha rala. Na loja do João ferreiro, adeante da Portella, o clarão da forja avivou, mais