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—­Por quê?

—­Porque não posso escutal-o.

—­Ou não quer.

—­Ou não quero; seja.

—­Teria eu a desventura de chegar tarde, prima? Acaso o seu coração já...

—­Que impertinente pergunta? Se , não tenho ainda no sr. Henrique a necessaria confiança para o tomar por confidente. Conhecemo-nos apenas de hontem, que é o mesmo que não nos conhecermos.—­E accrescentou logo depois:—­Christina, anda ser arbitra n’uma disputa entre mim e o primo Henrique.

—­Que vae fazer?—­perguntou-lhe Henrique, admirado.

Christina approximou-se; Augusto seguiu-a. Henrique não desviava os olhos da morgadinha que, sem lhe dar attenção, proseguiu para Christina:

—­O primo Henrique falava com certa exaltação da doçura do teu caracter; o meu amor proprio disse-me que—­era pouco delicado estar assim a lisonjear uma mulher na presença de outra—­e redargui por isso, pondo em dúvida a asserção e affirmando que havia um fermentozinho de maldade na tua doçura. Elle nega por impossivel, eu insisto e estamos n’isto. Agora dize tu.

Christina córou intensamente e não teve que responder.

Henrique, que nas palavras de Magdalena julgou ouvir algumas que, pelo sentido e inflexão, com que foram dictas, lhe eram dirigidas, acceitou desaffrontadamente a posição, em que Magdalena o collocára, e respondeu:

—­Venci eu! O facto de querer a priminha poupar uma réplica amarga á accusação que lhe fazem, é a maïs éloquente prova, já não digo só da doçura, mas da natureza angelica do seu caracter. Já vê, prima Magdalena, que «quando uma das mulheres que diz, fôr como a nossa boa Christina, não se po-