— Mas... diga: onde é que vae buscar esses versos?
— Não sairei da aldeia para isso. N’uma visita que d’aqui vou fazer, conto obtel-os. Agora falemos de outra coisa. Que é de teu pae?
— Saiu a levar umas encommendas. Minha madrinha, d’alli defronte, está para a igreja e meu padrinho nas hortas. E eu vou tratar do jantar de meu pae.
— Pois vae, que eu faço-te companhia.
E Angelo seguiu-a á cozinha, e ahi, ella sentada na soleira da porta a escolher hortaliça, elle a dar de comer aos coelhos e ás gallinhas, se entretiveram a conversar.
Angelo falou-lhe de Lisboa, dos theatros, contou-lhe enredos de dramas que o tinham commovido; typos e situações de romances, que se lhe haviam gravado na memoria; invenções da arte moderna, versos, anecdotas, contos.
Ermelinda era toda ouvidos a escutal-o.
Passadas horas, Angelo levantou-se e despediu-se, para sair.
— Onde é que vae?
— Vou visitar Augusto, que deve estar agora em casa.
— E ainda o não viu?
— Ainda não. A minha primeira visita foi esta.
— Então vá, que elle deve estar morto por o vêr. Ah!... já sei a pessoa a quem vae pedir os versos!
— Quem te disse que Augusto os fazia?
— Eu vi-o estar a escrever na parede da capella da Senhora da Saude de uma vez que eu ia levar o jantar a meu padrinho, que estava a trabalhar para aquelles sitios.
— E leste-os?
— Não, que não quiz que elle me visse. Mas que havia elle de escrever na capella? Então não adivinhei?