― Vão, vão com Nossa Senhora, que eu cá me arranjarei. Muito boas noites, sr. Henriquinho.

― Adeus, José ― disse Henrique, passando para a mão do guia a esportula da gorgeta, e após seguiu, com as pernas trôpegas de cavalgar, o homem do lampeão.

Não era para dissipar a impressão penosa, que subjugava o espirito de Henrique, o aspecto que lhe offerecia, áquella hora da noite, a parte da quinta, por onde era conduzido para a casa de Alvapenha.

Primeiro, trilhou o pavimento molle de um quinteiro ou eido, estradado de altas camadas de matto e embebido de chuva, d’onde se exhalava um cheiro de cortumes, pouco de lisonjear o olfacto mal habituado a estes aromas campezinos. A luz do lampeão a custo conseguiu evitar a Henrique o tropeçar n’um carro desapparelhado, n’uma dorna, n’uma pia para gallinhas, e em outros objectos que atrancavam o quinteiro. Transpondo a cancella que terminava este, seguiram por uma rua de folhas; atravessaram diagonalmente a horta, pelo carreiro que a dividia; ladearam a eira e a casa do cabanal, e, effectuados mais alguns rodeios, acharam-se finalmente junto da escadaria de pedra, por onde se subia para uma especie de patamar ou varanda alpendrada, que servia de um modesto portico á casa de Alvapenha.

A propriedade da tia de Henrique era um genuino typo de casa rustica, á moda do Minho.

Ao subir as escadas, e apesar de mal poder divisar os objectos á escassa luz que os allumiava, recebeu Henrique a primeira impressão agradavel de toda aquella mal estreada excursão.

Estas escadas, esta varanda de pedra e este alpendre avivaram n’elle memorias, quasi apagadas. Lembrava-se agora vagamente de ter brincado alli, a cavallo n’esse mesmo parapeito, então, como agora, enfeitado de uma formidavel cohorte de aboboras meninas, victimas votadas ás festas do proximo Natal.

A um canto do patamar deparou-se-lhe ainda um