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— Não ouvi — respondeu esta, córando e sorrindo, como sempre que lhe falava Henrique.

— Escusado é consultar Christina — acudiu a morgadinha — porque em muitas coisas pensa ella em opposição commigo. E n’isto...

— E n’isto...

— N’isto de attender a requerimentos, é talvez mais condescendente.

— Ao que estou vendo — disse o conselheiro jovialmente — grandes coisas se tinham passado aqui, antes da minha chegada. Vejo lavrar uma hostilidade entre Lena e o sr. de Souzellas, que me dá sérias inquietações.

— E eu julgo que não. Ao que ouvi ao Henriquinho, a primeira vez que viu a nossa Lena no Mosteiro!... — disse D. Dorothéa, com toda a indiscreção da sua ingenuidade.

Magdalena procurou acudir a tempo á corrente das revelações, a que viu disposta a boa senhora.

Veio opportunamente em seu auxilio Angelo, que tendo feito uma digressão pela sala do refeitorio, voltou com a alegre nova de que a ceia estava na mesa.

O annuncio foi recebido com apparente enthusiasmo. Suspenderam-se trabalhos, quasi completos, ultimaram-se á pressa outros, e a companhia dirigiu-se para o corredor.

Pouco depois de Angelo, chegou D. Victoria, desmentindo-o e pretendendo suster a corrente, que ameaçava invadir a sala, que ella ainda não dera por prompta. Já não era tempo. O conselheiro, tomando duas creanças ao collo, rompia a marcha, e atraz d’elle até a pacifica D. Dorothéa clamava insubordinada que não recuaria um passo.

E falando e rindo assim entraram na sala.

Estava offuscante de luzes, esplendida de louças e baixellas, enfeitada de flores e de crystaes e ennevoada dos vapores das iguarias.

Houve um grande rumor de cadeiras arrastadas,