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— Ora vamos, Lena. Sê razoavel. Todos soffrem no mundo sacrificios maiores do que esse; eu mesmo, que me não tenho ainda assim por victima da sorte...

— E não haveria outro meio? — perguntou Angelo. — Acaso ha só esses dois logares para dirigir a estrada?

— Que antes nunca se fizesse! — exclamou Magdalena, apaixonadamente.

— Ahi temos como o sentimento me torna retrograda a minha Lena. Já clama contra as estradas como qualquer reaccionario convicto. Havia um outro traçado, mas esse ia destruir completamente os campos do Brejo.

— Ah! então esse, esse! São bens nossos! — exclamou Magdalena com vivacidade.

— São bens de Angelo, filha, e por ventura aquelles que um dia mais valiosos se tornarão para teu irmão.

— Os charcos? — disse Angelo, encolhendo os hombros — ora! Só para viveiro de rãs.

— Hoje pouco mais são do que isso, e como tal nol-os pagariam agora. Dentro, porém, de alguns annos, operados alli os trabalhos de esgoto, que eu projecto, verão em que se transforma aquillo. É exigir a um homem muita abnegação pretender d’elle que sacrifique assim os elementos da riqueza futura de seus filhos; quanto mais que as vantagens não seriam taes que...

— Não pediriamos esmola, meu pae — notou timidamente Angelo.

— Nem o Vicente a pedirá. Visto que estaes tão desprendidos de interesse, que não hesitaes em fazer-lhe sacrificio dos vossos bens, podeis ceder-lhe o sufficiente para o compensar da perda.

— Mas quem o compensará dos golpes nos seus affectos? — perguntou Magdalena.

— Tambem tu! São segredos do coração feminino essas compensações. Deixo-as á tua disposição.