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embargo dilatorio, podem ser motivo para o seu adiamento, porventura indefinido. Por isso tambem me animei, porque contava comtigo, Vicente. Enganei-me?

O herbanario estava cada vez mais pensativo.

— Pensaste bem. A velhice é assim; e eu queria dar mais importancia a dois annos de vida que me restam, do que á vida nova que vae haver para esta terra. Fizeste bem.

— Esperava ouvir isso mesmo de ti, Vicente. Além de que, dissipa as apprehensões com que estás; em toda a parte terás arvores...

O herbanario interrompeu-o:

— Se não entendes o amor que eu tenho a estas, não faças por consolar-me, Manoel, porque me affliges mais.

— Porém deixa-me dizer-te, Vicente, que no Mosteiro, ou em qualquer das nossas propriedades, tens sempre um logar vago á tua espera, tanto á mesa, como ao canto do fogão, e amigos que te receberão com prazer.

— Não receio ficar sem abrigo, Manoel. Em cada choupana de pobre teria tecto e pão. Conto com a colheita de algum bem que semeei.

— Eu farei com que o contracto da expropriação seja o mais favoravel possivel. Vejamos, em quanto avalias...

— Não falemos n’isso. A avaliar por o que eu lhe quero, ninguem m’o pagaria; a não attender a isso, tudo será pagal-o bem.

— Mas...

— Não falemos n’isso, homem. Tenho medo de que estas arvores me ouçam propôr o preço por que as vendo. Se alguma coisa posso pedir-te, então...

— Tudo. Dize em que te posso servir.

— Peco-te que decidas a pretenção d’aquelle pobre rapaz, de Augusto; que te lembres um dia de que aqui na aldeia ha um homem, que tem vinte annos, um coração e uma cabeça como tu sabes, e