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— Devéras! Eu logo vi que o pae havia de ceder! — exclamou Magdalena, com alegria.

— Como ceder? — tornou o pae. — Elle é que foi mais condescendente do que eu esperava. Não oppôz a menor resistencia, nem se queixou muito amargamente.

— Pois consentiu?!

— Sem grande custo, ao que parecia.

— Ó meu Deus! meu Deus! agora é que eu temo devéras. Pobre tio Vicente! assusta-me isso que diz, meu pae!

— Ora vamos; a tua imaginação é que te illude. Mas deixa-me aqui falar com o morgado das Perdizes e com o brazileiro, que julgo que teem que me dizer. Vae para a igreja, que eu vou já ter comvosco.

E separando-se da filha, o conselheiro dirigiu-se ao grupo, em que estavam aquellas duas notabilidades.

— Dou-lhes uma boa nova, meus senhores — disse o conselheiro, depois de cumprimental-os — dentro em pouco temos os alviões a trabalhar cá na terra. Estive agora com o Vicente; receei resistencias da parte do homem, que nos obrigassem a expropriações judiciaes, sempre demoradas. Mas não, achei-o nas melhores disposições; e assim, dentro em poucos dias...

— Mas, para deante da casa d’elle, talvez os outros proprietarios não sejam tão doceis — lembrou o brazileiro.

— Bem sabe que são terras insignificantes, cujos possuidores com pouco se contentam.

— Os antigos possuidores talvez se contentassem com pouco — disse o brazileiro, sorrindo velhacamente — mas os modernos...

— Pois mudaram de senhorio?

— Por contracto de venda assignado e legalisado hontem mesmo.

— E quem os comprou?