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não ha de estar só a fazer favores, sem os receber quando os pede. Com este já são très. Pedi-lhe para o meu tío abbade ser conego; foi tanto conego como eu. Pedi umas caudelarias lá para a freguezia... estou á espera d’ellas... Ora isto não se faz. O senhor sabe que eu lhe tenho vencido as eleições com a gente da minha freguezia, que vae para onde eu a levo. Pois agora não sei o que será. A não se decidir este negocio depressa...

—­Ora não será isso motivo para tanto.

—­Com certeza que é—­insistiu o sr. Joãozinho.—­Então digo-lhe maïs: a mim já me falaram. Ha ahi alguem que não desgostaria dos votos de que eu disponho, e votar pelos que já estão no poleiro não sei se lhe diga que não é peor.

O conselheiro, mortificado como estava, disse, sorrindo:

—­Não posso convencer-me de que o meu amigo seja capaz de fazer isso por qualquer causa que possa dar-se. Mas deixe estar que, em relação ao que me diz, eu verei.

—­Mau! Não é «eu verei». Então falò-lhe claro. Se d’aqui até ás eleições não estiver feito o despacho, não conte commigo.

—­Mas quem lhe diz que não ha de estar?

—­Pois lá isso...

—­Socegue. Hoje mesmo escrevo para Lisboa.

—­Bem.

O sino tocava a chamar para a festa.

Terminou o dialogo.

—­O peor—­ia pensando o conselheiro—­o peor é que prometti ao Vicente que apressaria o despacho de Augusto. Não tem dúvida; é tão magra a posta, que não vale a pena disputal-a. Para Augusto arranjarei alguma coisa melhor. É preciso ter ambição por elle. Se elle quizesse ir para Lisboa?... Mas, pelo que me disse este basbaque, já se máquina no campo contrario! Hei de sondar o Tapadas, a vêr o que sabe.