29

Uma symphonia com quatro mezes de ensaios! A falar a verdade!

Ordenadas as coisas, rompeu emfim a symphonia.

Os typos dos artistas, marcialmente uniformisados com fardas que fôram de um corpo de infantería, eram para tentar o lapis de um Cham où Gavarni. Alli um gordo e rubicundo merceeiro, que ameaçava estalar todas as costuras da farda, primitivamente feita para um individuo de metade das dimensões d’elle, com as faces insufladas, a testa contrahida e os olhos injectados para extrahir de um obsoleto serpentão, que embocava com arreganho assustador, as maïs destemperadas notas; acolá um flautim, de braços compridos e tibias esquinadas, com meio braço fóra das mangas, com meia perna de fóra das calças, figura em que havia não sei o que de onomatopaico, tão bem se casava com os silvos, horripilantemente agudos, que arrancava do exiguo instrumento. O artista pratilheiro era um velho recurvado, de nariz adunco, faces escavadas, olhos de coruja, suissas em tufos no meio das faces, e oculos na ponta do nariz. Um zarolha evacuava os pulmões dentro de um figle; um corcovado e semi-anão repicava os ferrinhos com uma prodigalidade assustadora; as baquetas da caixa estavam confiadas ás mãos callosas de um moço de lavoura, de rêpas hirsutas a cobrir-lhe a testa, olhos esbogalhados e labio pendente. E, no meio d’estas e analogas figuras, a alma de tudo, o sr. Pertunhas, torcendo-se, batendo com o pé, suando, arregalando os olhos, piscando-os, marcando o compasso com a cabeça armada de énorme trompa, que lhe dava então não sei que apparencias de proboscidiano.

Tal era a philarmonica da terra, que Henrique, o conselheiro e toda a familia do Mosteiro escutavam das janellas, e á qual tiveram de dispensar elogios, que o régente acceitou com a modestia de artista