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esses presentimentos, a elle, ainda pouco tempo havia tão despreoccupado! Como lhe occorrera de repente a memoria d’aquelle dia em que, voltando tambem de fóra, viera encontrar quasi morta a mulher, que chorava ainda, a mãe de Ermelinda? Phenomenos que se perdem na parte obscura da vida moral, da qual ainda a analyse não conseguiu devassar as sombras.

Crescia o sobresalto do pobre homem ao pousar os pés nos primeiros degraus da escada de pedra. Ao passar pela porta do compadre, não tivera coragem de perguntar; receiou sair da incerteza.

Foi quasi a tremer que empurrou deante de si a porta da casa, que encontrou aberta.

Logo ao entrar, recuou espantado e não reprimiu uma exclamação de surpreza.

Fôra a causa o achar novidades na primeira sala.

Deu com os olhos n’uma fileira de pequenas cruzes de pau preto que cercavam as paredes, e em alguns caixilhos com imagens de santos, que não deixára alli ao partir. E ninguem a recebel-o.

— Crédo! — disse o Cancella, desgostoso. — Para longe o agouro! Cruzes negras á chegada! São coisas da comadre. Maldita velha! Jurou metter-me scisma em casa e na cabeça da rapariga, e se não lhe acudo... — Ermelinda! — exclamou, chamando por a filha.

Como não recebesse resposta, passou para os aposentos interiores.

Á entrada do corredor descobriu uma pequena pia de louça cheia de agua benta, em que mergulhava um ramo de alecrim.

— Mau! — disse o Herodes, cada vez mais descontente. — Vou vendo que a minha comadre fez por aqui das suas. Ora queira Deus... queira Deus... Ermelinda!

E correu toda a casa, que não tinha muito que correr, e explorou o quintal, e sem achar a filha; já inquieto, chegou a um quarto mais retirado, o