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—­Anda, meu calumniador de Deus!

E d’esta vez o Cancella principiou por collocar o padre em pé, e após, dando-lhe um forte impulso e soltando-o das mãos, deixou-o ir á mercê da fôrça transmittida.

O padre estendeu os braços instinctivamente para se amparar na quéda provavel, e, pé aquí, pé acolá, a passos descommunaes, escapou miraculosamente de cair, porém não conseguiu parar senão a muitos metros de distancia.

Escusado é dizer que está scena não correu entre o silencio dos espectadores. Mal o Cancella levantou a mão sobre a cabeça do padre, as beatas ergueram um alarido de atroar céo e terra.

—­Aquí d’El-rei!

—­Aquí d’El-rei sobre o Herodes!

—­Aquí d’El-rei, que matam o sr. fr. José!

—­Quem acode ao sr. fr. José?!

—­Ai, que matam o santinho do missionario!

E estás e outras vozes pipilavam, uivavam e chiavam aquellas esganiçadas mulheres, sem que o zelo religioso as decidisse, porém, a intervir maïs activamente.

A celeuma attrahiu gente, e, no numéro, alguns cabos de policía, que, em cumprimento de seus deveres, se acercaram do Herodes, mas com respeito.

Este, porém, não oppoz resistencia.

Tinha-lhe passado a furia e voltou-lhe o desalento.

Assim deixou-se levar em prisão, acompanhado das imprecações das beatas e dos gritos de indignação dos homens.

As devotas mulheres correram para o missionario.

Umas levavam-lhe o chapéo, outras os oculos, outras o capote.

—­Magoou-se, sr. fr. José?

—­Doe-lhe alguma coisa?

—­Feriu-se?