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sem inquirir do motivo de tão inesperada visita. O brazileiro sentou-se e principiou:

— Acabo agora mesmo de saber da injustiça que lhe fizeram. Senti-a como se fôra propria, e venho aqui declarar-lh’o.

Augusto curvou-se, em signal de agradecimento.

— Mas então que quer? — proseguiu o homem. — Hoje em dia é tudo assim. Padrinhos e mais padrinhos, e o mais são historias. Estamos n’uma época de corrupção e de immoralidades, e ninguem sabe onde isto irá parar.

Augusto ouviu em silencio os threnos do capitalista, que proseguiu:

— Tôlo é quem não faz como os mais. O mundo está para os velhacos.

Parou, assoou-se, tossiu, e puxando a cadeira para mais perto da de Augusto, continuou, em tom differente e mais baixo:

— Quando um homem tem uma gotta de sangue nas veias não pode receber as offensas e ficar-se com ellas assim. O perdão evangelico é muito bonito, mas não é para homens. Não lhe parece? Eu por mim não gósto de genios de lama. Falemos como amigos. Nós ambos somos victimas de um mesmo homem. O sr. Augusto foi enganado e escarnecido por o conselheiro, que se apregoava seu protector. Ahi temos a protecção que elle lhe deu. Eu tambem lhe devo finezas.

— V. s.a? — perguntou Augusto, que não podia saber o que lhe queria no fim de tudo o brazileiro.

— Eu, sim, senhor. Eu lhe digo como isto foi.

E o brazileiro, puxando a cadeira, approximou-se mais de Augusto, e deu principio á exposição dos seus aggravos:

— O conselheiro, que joga em politica com pau de dois bicos, andou-me a causticar, para que eu acceitasse um titulo qualquer... Queria fazer-me visconde por fôrça. Coisas de que eu me estou rindo... Mas... emfim, para me livrar d’aquelle importuno,