mestre, entrando a qualquer hora no mais intimo da casa, sim... demais como a D. Victoria é... um tanto descuidada, como todos nós sabemos... Não sei se me percebe?... Dizia eu... sim, que se ás vezes, por acaso, encontrasse[1] coisa que valesse...

Augusto levantou-se, indignado.

— Sr. Seabra! — exclamou, cheio de cólera.

— Valha-me Deus, eu não quero dizer... Não me entendeu... Bem vê que se o senhor devesse obrigações ao conselheiro, eu não ousava... Mas...

— Obsequeia-me muito, sr. Seabra, se não insistir...

— Entendamo-nos. O senhor está no principio da vida. Precisa do auxilio de alguem. Offerece-se-lhe occasião para fazer serviços ao governo, que é finalmente quem pode pagal-os; e que se lhe pede para isso? Quasi nada... O senhor sabe perfeitamente que se não trata aqui de desgraçar ninguem, de levar ninguem á forca.

— Visto que v. s.a insiste, sou obrigado a retirar-me.

— Espere, sr. Augusto — acudiu o brazileiro, segurando-o. — Repare no que faz. Não seja precipitado. Eu estou prompto a fazer alguns sacrificios, se vir que nas suas circumstancias...

— Visto que v. s.a não se cala, nem quer que eu me retire, ouça então o que tenho para lhe dizer. A sua proposta seria para mim o maior dos insultos, se não fôsse tal a baixeza d’ella, que até despe de toda a imputação a pessoa que a faz. Os homens, faltos de sentimentos de honra, não offendem, quando insultam; não se lhes pode pedir razão da infamia, porque não a conhecem como tal; identificaram-se com ella. Por isso, só me resta um partido, é convidal-o a sair.

O brazileiro fôra erguendo-se á medida que Augusto falava. Estava espantado por vêr que um rapaz, sem um vintem de seu, ousasse falar com tal

  1. "encontrassse" no original, erro tipográfico.