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Chegada a época da discussão, o conselheiro, que sempre se mostrou ardente adversario da medida ministerial, e de quem se esperava uma opposicão vigorosa e efficaz, pretextou subitos negocios a chamal-o á provincia, e partiu, promettendo voltar a tempo ainda de discutir a questão.

Depois de chegar ao Mosteiro escreveu para os amigos, lamentando que inesperados negocios de familia o retivessem alli mais tempo do que contava, e alentando-os de longe á lucta. No entretanto, a questão foi apresentada nas camaras: oradores tibios e mal escutados acharam-se sós a combatel-a; apagadores officiaes e officiosos abafaram a tempo a discussão; e, quando o conselheiro voltou a Lisboa, só pôde protestar nos circulos politicos contra o resultado da votação e expender as razões que deveriam fazer repellir a medida.

Em recompensa eram concedidos melhoramentos para o circulo que o elegia; e entre elles a estrada que vimos principiar. Tal fôra o preço d’ella.

Tudo isto trazia agora á luz a carta desencaminhada, que era do secretario do ministro, e que no seu conteúdo deixava vêr claramente as condições do pacto.

Esta publicação causou profunda sensação em Lisboa. A importancia politica do conselheiro soffreu com isso.

Atacavam-n’o os partidarios do governo, para declinarem d’este, quanto possivel, a responsabilidade do facto; atacavam-n’o os opposicionistas declarados, para com o mesmo golpe ferirem o ministerio.

Os influentes politicos teem sempre no proprio partido, a que pertencem, invejosos que só almejam o primeiro pretexto para os derrubarem, embora caia com elles o partido a que se filiam.

Aquella carta foi, durante algum tempo, uma arma poderosa nas mãos dos taes; originou discussões e ataques violentos; e o conselheiro correu