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O sr. Joãozinho, cego de embriaguez e de raiva, berrava, voltado para elle:

— O senhor conhece-me?... O senhor sabe com quem fala? Olhe bem para mim... Quero vêr agora se ainda se ri.

— Por que não? Se cada vez está mais ridiculo!

O morgado deu um urro selvagem e fez um movimento como para se atirar a Henrique.

Este recuou um passo, e pegando no copo que ainda tinha intacto deante de si, despejou-o todo sobre aquella figura já avinhada, dizendo motejadoramente:

— Ahi tem; é isso provavelmente que vem buscar.

O rosto, as mãos e a camisa do sr. Joãozinho ficaram litteralmente tingidas. Soltando um rugido de fera, levou a mão á faxa da cinta, como a procurar uma arma. Henrique, percebendo-lhe o movimento, antecipou-se a segural-o pela garganta, para o reter e afastar de si.

O morgado torcia-se e espumava sob a constricção de Henrique, e já congestionado e rouco bradou:

— Ó Cosme!... Ó Cosme!... Mata esse maldito!...

A phalange do sr. Joãozinho correu em soccorro do chefe. O varapau do Cosme girou no ar, produzindo um zunido como o de um enorme zangão.

O braço diligente do Canada, movido pelo empenho de salvar o crédito do estabelecimento, afastou a tempo Henrique do terrivel embate, que infallivelmente lhe seria fatal.

A pancada caiu sobre a mesa, que lascou ao comprido.

Henrique estava incólume, e o morgado sôlto.

Mas o perigo não passara para Henrique. O morgado preparava-se com os seus para nova investida, quando se ouviu a voz do brazileiro e do padre bradarem: