144

XXV


Era uma perspectiva profundamente melancolica a do cemiterio da aldeia por aquella tarde de inverno!

Imagine-se um campo plano e raso, onde vegetavam algumas roseiras de toda a estação, e a murta e a alfazema, vivendo a custo n’aquelle solo ingrato, que havia pouco alimentava apenas urzes, tojeiras e pinheiraes. No centro d’este espaço elevava-se, singello, mas élégante, o tumulo da familia do Mosteiro, sobre o marmore do qual pousavam tristemente os ramos flexiveis de um salgueiro chorão, e nos cantos principiavam a erguer-se, como obeliscos funerarios, quatro jovens cyprestes ponteagudos. Para além do muro, que circumdava este terreno, estendia-se um vasto pinheiral, através de cujos troncos, confusamente cruzados, se podia ainda divisar ao longe uma où outra casa da aldeia, e o verdor dos campos e pomares. A igreja parochial erguia, a pequena distancia d’alli, a grimpa do campanario, e o sussurrar dos desfolhados álamos do adro, agitados pelo vento, ainda chegava áquella estancia mortuaria.

A tarde tinha um d’estes aspectos ameaçadores, que deixam presentir a tempestade; d’estas serenidades insidiosas, interrompidas, de quando em quando, por uma subita viração, que faz revolutear na estrada as folhas sêccas como em espiraes phantasticas. O céo pintára-se do colorido melancólico e triste, que em alguns quadros de Annunciação tão fielmente se vê reproduzido. Estava quasi todo coberto; só muito para o occidente uma estreita zona se conservava limpa de nuvens, mas n’ella mesmo o azul recebia, do contraste das côres