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mysteriosa, fitando ás vezes os caminhos proximos, como se d’alli aguardassem alguma coisa.

A morgadinha viera junto ao tumulo despedir-se da filha do Cancella.

Christina ficára a fazer companhia a D. Victoria, que se achára adoentada.

Segundo o costume de algumas aldeias, Ermelinda devia ser acompanhada á campa por creanças quasi da mesma idade, vestidas como para festas. Uma d’ellas era a pequena Marianna, a irmã mais nova de Christina; as outras, raparigas das vizinhanças, que as senhoras do Mosteiro tinham por suas proprias mãos vestido e enfeitado. O enterro fazia-se com extraordinario apparato, não só em honra da familia do Mosteiro, mas para desvanecer a má impressão dos animos populares por meio da pompa religiosa.

Era digno do pincel de um artista, a quem a poesia das scenas campestres ainda inspirasse, o cortejo ao mesmo tempo melancolico e risonho, que, saindo da igreja, se encaminhava lentamente para o tumulo onde Ermelinda devia ser sepultada.

O sol quasi a desapparecer sob o horisonte, entrava na estreita zona, que as nuvens não toldavam.

A paizagem inundava-se agora de luz, mas de uma luz froixa, amarellada, que dá ao verde da relva e das frondes das arvores uma maior intensidade.

A cruz de prata que arvorada por um homem de opa, abria o cortejo, reflectindo aquelles raios amortecidos, brilhava como cingida de uma verdadeira auréola. Seguiam-se alguns padres de sobrepeliz e batina, recitando as orações da occasião; entre estes havia um de aspecto venerando, curvado pelos annos, de physionomia bondosa e pensativa. Era o cura, santo e respeitavel ancião que, em vez de exacerbar os preconceitos do povo contra os enterros, no cemiterio, antes energicamente os combatia e censurava.

Depois vinha em caixão aberto, e no meio de uma