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A chuva caía com mais fôrça. Para se abrigar, Henrique subiu os degraus de pedra, no tôpo dos quaes havia um patamar lageado e convenientemente toldado.

Ao chegar alli achou tambem aberta a porta da primeira sala, e ao fim de um corredor pareceu-lhe divisar luz.

Henrique parou indeciso.

— Decididamente enganei-me. Não é aqui a casa dos Cannaviaes. Sempre perguntarei.

E bateu as palmas.

Ninguem lhe respondeu.

Bateu outra vez; o mesmo resultado.

Aventurou-se a entrar, deu alguns passos pelo corredor e bateu.

O mesmo silencio; seguiu até o fim do corredor em direcção á luz; chegou a uma sala mobilada com antigas cadeiras de alto espaldar, e alumiada por um candieiro de metal, pousando na pedra da chaminé, em cujo fóco brilhavam ainda uns carvões candentes.

— Parece uma historia de fadas! — pensava Henrique. — Dar-se-ha que a alma da morgada goste ainda das commodidades?

Ia a dirigir-se a uma porta para chamar, quando se abriu outra do lado opposto, e appareceu-lhe uma mulher velha, com um vestuario meio do campo, meio da cidade, e trazendo uma luz na mão. Henrique voltou-se e preparava-se para lhe dirigir a palavra, quando ella primeiro lhe disse:

— Procurava alguem, o senhor?

— Peço perdão pelo meu atrevimento. Bati muito tempo á porta, e emfim como a visse aberta, decidi-me a entrar. Desejava saber onde é aqui a casa dos Cannaviaes.

— A casa dos Cannaviaes é esta mesma.

— Mas... eu julgava... suppunha ter ouvido dizer, que não morava aqui ninguem.

— E não o enganaram. Hoje por acaso é que está cá a sr.a morgada.