209

O sr. Joãozinho das Perdizes devia decidir a contenda. Para onde se inclinasse o morgado, com todo o peso dos seus comparochianos, desceria o prato da balança.

Contra elle assestou, pois, o conselheiro toda a artilharia; mas sem o menor resultado. O homem evitava subtilmente encontrar-se com elle, e aos seus emissarios respondia com insolencia. O Seabra pela sua parte nunca o largava, vigiava-o como um precioso thesouro, não se descuidava de o manter nas disposições hostis contra o conselheiro. A todo o momento fazia-lhe sentir o insulto que recebera na taberna, e a necessidade que tinha, para se desaffrontar, de infligir uma lição ao conselheiro, com quem Henrique estava ligado. Depois disse-lhe que o conselheiro se gabava de ter dinheiro para comprar o morgado e toda a freguezia.

O morgado, sob estas e analogas instigações, praguejava e jurava despejar na urna ministerial o suffragio da sua freguezia.

Assim, pois, todas as probabilidades eram a favor do candidato do governo, homem desconhecido d’este povo, o qual tambem era desconhecido para elle, um empregado de secretaria, que nunca saira de Lisboa e que era o primeiro a rir-se do campanario obscuro de que se propunha a ser representante; creatura dos ministros, que o desejavam eleger a todo o custo, por terem n’elle um voto complacente e um parlamentar de boa feição.

Logo pela manhã do domingo, marcado para a grande solemnidade civil, o adro da igreja parochial apresentava uma animação fóra do costume. Grupos formados aqui e alli conferenciavam, entreolhando-se com desconfiança, ou correspondendo-se por signaes de intelligencia, conforme pertenciam á mesma ou a opposta parcialidade. Os agentes eleitoraes, os influentes dos dois campos acercavam-se d’este, apertavam a mão áquelle, segredavam com um, batiam no hombro a outro, discutiam