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Cosme quasi à latere. Entrou no adro com ares triumphantes, sorrindo e piscando os olhos para os seus amigos e partidarios, como para lhes fazer notar a numerosa procissão que o seguia e a docilidade dos membros d’ella.

Atraz vinham os eleitores de Pinchões, velhos e moços, ricos e pobres, mas todos com o olhar timido e estupido, todos com movimentos enleados, todos com os olhos no caudilho, para saber o que deviam fazer. Se elle parava a cumprimentar um amigo, paravam todos com elle; a direcção que tomava, tomavam-n’a todos a um tempo; apressavam ou demoravam o passo, segundo a velocidade que elle dava aos seus; se ria, sorriam; se praguejava, tudo ficava sério. O cortejo parou á porta da igreja.

O morgado passou revista á sua tropa, á qual deu instrucções.

Os homens, com os cabellos para deante dos olhos, os braços estendidos e a cabeça baixa, não ousavam fazer um movimento, e conservaram-se enfileirados até nova ordem do sr. Joãozinho.

Pareciam envergonhados de serem precisos a alguem.

No bolso de cada um d’estes homens havia um oitavo de papel almaço dobrado, no qual estava escripto um nome; o nome de um homem que elles nem sabiam se existia no mundo. No momento devido, cada um d’elles, chamado pela voz do escrutinador eleitoral, responderia: «presente»; approximar-se-ia da urna, entregaria ao presidente da mesa aquelle papel, e retirar-se-ia satisfeito, como se descarregado de um pêso que o opprimia.

Se lhes perguntassem o que tinham feito, qual o alcance d’aquelle acto que acabavam de executar, não saberiam dizel-o; se lhes perguntassem o nome do eleito para advogado dos seus interesses e defensor das suas liberdades, a mesma ignorancia; se lhes propuzessem a resignação do direito de votar, acceitariam com jubilo; se, finalmente, lhes dissessem