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de uma maneira cruel para o seu coração. Assim as entendeu Augusto, e, sem mais querer vêr nem ouvir, retirou-se como um louco.

Foi n’essa occasião que Magdalena o viu.

Quando voltou a casa, o herbanario que, ainda acordado, o esperava, viu-o pallido, e com uma expressão singular no rosto.

— Então? — interrogou-o anciosamente o velho.

— Tinha razão, tio Vicente. Tem sido uma longa e má loucura a minha. Verei se me curo d’ella.

E, sentando-se, encostou a cabeça ás mãos e permaneceu silencioso.

O velho não lhe perguntou o que se tinha passado.

D’ahi em deante foi em rapido progresso a prostração de animo em Augusto.

A doença do herbanario que se exacerbou consideravelmente tambem, era o unico motivo de uma fôrça ficticia que ainda o sustentava. Os seus desvelos pelo enfermo tornavam-lhe todos os instantes.

A unica voz, echo da vida exterior que lhe chegava aos ouvidos, era a do cirurgião que tratava do herbanario.

Falador por indole e por cálculo profissional, o facultativo contava á cabeceira do leito as novidades do dia. Entre essas trouxe uma das que mais vogavam, que era a de que Henrique casava no Mosteiro com a morgadinha.

Um equivoco dizer do Torquato, na presença dos criados do mosteiro, uma das meias discreções do velho, mais perigosas do que a propria indiscreção originára esta versão.

Augusto escutou a nova sem que o gesto o trahisse: mas o herbanario, que o fitou com olhos interrogadores, leu claro n’aquelle rosto impassivel.

No dia das eleições, o estado do velho Vicente era mais grave ainda. O cirurgião prolongou a sua visita e falou da campanha eleitoral. Assegurou que era certa a derrota do conselheiro, desde que contra elle se manifestára o sr. Joãozinho das Perdizes.