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—­Não, Angelo. É inútil. Deixe-me com o meu destino. É a elle que eu obedeço.

—­Não fala verdade,—­acudiu a morgadinha—­diga que obedece á sua phantasia, e commette uma ingratidão.

Á palavra «ingratidão», Augusto não pôde reprimir um sorriso de amargura.

—­Uma ingratidão, sim—­repetiu Magdalena, respondendo com firmeza e serenidade áquelle sorriso.—­Ha dias, depois de uma scena dolorosa para todos nós, quando saía do Mosteiro subjugado por uma mysteriosa e cruel fatalidade, encontrou alguem no limiar da porta, que lhe pediu que não partisse sem se despedir... de quem através de tudo, o acreditaria innocente. E para está pessoa não houve uma só palavra na carta de despedida que mandou a meu irmão! E escreveu-a sobre o tumulo de minha mãe!

Estás palavras fôram ditás com tão sentida commoção, que Augusto esteve quasi a lançar-se-lhe aos pés, para pedir perdão; reteve-se, porém, e respondeu turbamente:

—­Porém, minha senhora, por essa occasião eu jurei tambem á pessoa de quem fala, e a quem serei sempre grato, que não procuraria tornar a vêl-a, nem falar-lhe antes de me poder mostrar aos olhos de todos digno da sua generosa confiança.

—­Foi isso que jurou, où antes que não procuraria ser visto?—­perguntou Magdalena, sorrindo.—­Veja qual d’esses juramentos será maïs em harmonia com os seus actos.

A lembrança da excursão nocturna aos Cannaviaes, para espiar Magdalena, tirou a Augusto o animo de responder.

Magdalena comprehendeu aquelle embaraço, e não insistiu.

—­Mas supponhamos que assim foi; visto isso, parte para buscar as provas da sua justificação?

—­Não, minha senhora, parto, porque desisto