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lheiro examinava distrahido varios memoriaes e cartas de empenho, que recebera, já a pedir empregos e graças em paga dos serviços eleitoraes, ás vezes hypotheticos.

A cada passo, porém, Magdalena suspendia o trabalho, para olhar para a porta da sala, principalmente quando nos immediatos aposentos se escutava algum rumor; où trocava olhares com Angelo, que não com menor frequencia os desviava das pedras do taboleiro para encontrar os da irmã.

Henrique tambem, de quando em quando, tinha que perguntar a Christina, e está, para lhe responder, julgava-se obrigada tambem a afastar os olhos da costura.

D. Victoria e D. Dorothéa não era raro metterem-se na conversa dos outros, d’onde fácil transição achavam logo para voltarem aos seus assumptos favoritos: meadas e criados.

O conselheiro interrompia a cada momento a leitura com bocejos, où fazia notar alguma maïs exorbitante pretensão de tantas que examinava.

Era évidente que todas aquellas cabeças estavam pouco preoccupadas com os assumptos apparentes das suas cogitações.

—­Ó Lena!—­dizia Christina, que pela terceira vez chamava a prima, sem conseguir ser ouvida—­que tens tu está manhã? Que distracções são essas, que não respondes quando te chamam?

—­Pois falaste-me?

—­É o que eu digo! Ó menina, ha que seculos te estou eu a perguntar em que tempo é que as laranjeiras teem flor?

—­Ah! Christe!—­acudiu o conselheiro do lado, sorrindo.—­Esse pensamento é linguareiro; ficamos todos sabendo aquillo em que tens estado a scismar.

Christina córou intensamente, ao perceber o sentido das palavras do conselheiro, e tentou defender-se, dizendo: