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Voltou Augusto á terra.

Era o rapaz o assumpto de todas as conversas: olhavam-o como um prodigio. Todos o queriam vêr, como se até alli o não tivessem visto bem, e de feito todos o foram vêr; nem o abbade, nem o administrador, nem o presidente da camara faltaram. Foi tudo. Pois bem, de tantos que o viram, não houve um só que não notasse que o pequeno vinha triste.

Ninguem contestava o facto: que elle como que saltava aos olhos; as interpretações é que variavam.

— Aquillo é dos ares de Lisboa; a quem não está costumado... dizia um.

— São canceiras de estudos — aventava outro. — Ha lá coisa que puxe mais por uma pessoa do que o estudo!

— Não que vocês cuidam! Um exame sempre abala a gente cá por dentro — dizia um doutor, que levára dez annos a vencer um curso de cinco.

Fôsse pelo que fôsse, Augusto trouxera de Lisboa uma melancolia, que os ares da sua terra não dissiparam e que augmentava sempre que lhe falavam no futuro e no legado da morgada.

Quem mais a estudou, e sentiu aquella subita melancolia, foi, como era de suppôr, a receiosa mãe. Deus sabe que noites mal dormidas, que sustos e que intimos terrores ella lhe causou! Perguntas, supplicas, arguições, lagrimas, promessas, nada tiravam de Augusto, que teimava em responder que nada tinha que o affligisse, que era a illusão de quem o via a tristeza que lhe suppunham, e, para confirmar o que dizia ria; mas era mais triste aquelle riso, do que o pranto, em que se desafogasse.

Para breve estava a entrada de Augusto no collegio de Lisboa, onde, á custa do legado da defuncta proprietaria dos Cannaviaes, devia continuar nos seus estudos, quando o rapaz pediu para ficar algum