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A VIAGEM MARAVILHOSA

pombos (naquelle tempo eu dizia pombinhos) se beijavam, Radagasio me disse com a sua voz soturna : « Nós faremos como elles... não quer? » Ohl dei uma gargalhada e fugi. Nem assim desmanchei o casamento. No dia seguinte ao do pedido eu berrava pela chácara : « Vou me casar, vou me casar », para ser ouvida por um moço visinho, que andou experimentando me namorar. Lili teria acordado? Não ouço barulho... Aqui é a casa da ordem. A ordem por base, repete Radagasio. Eu continuo a tolice : ordem e progresso. De costume é a negra, a peste negra, que traz a pequena ao terraço. Não perturbemos os costumes. A ordem por base. Sempre methodico Radagasio. Tudo marcado, tudo regularizado. Tudo. Oh 1 também que sacrifício. Antes nunca. Tenho horror deste homem! e que nojol oh! Quando nos casamos não era como hoje. Era magro, bem vestido, e até dansava valsa, de repente começou a engordar, avolumou-se, tornou-se pesado e ficou mais escuro. Hoje é barrigudo, anda bamboleando, os olhos pequeninos, apertados, lacrimosos, o nariz espichado, sempre fungando, sempre a assoar-se, a pelle preta, bigodinho de arame, meio chinez, cabeça de microcephalo e bochechas cahidas, eis o meu marido, Radagasio Vianna, secretario de banco, para onde entrou pela mão de papae, como empregado e foi fazendo aos empurrões a carreira. Mas que carreira vagarosa, carreira de lesma, quarenta annos, ainda secretario. É um mollusco o meu marido, os olhinhos de caranguejo ou de sapo? Anda por esses pântanos. E estúpido até alli! Papae o empregou e sempre nos sustentou até a sua morte. Radagasio não tinha vintém e era incapaz de trabalhar e ganhar a vida. Mas queria fartar-se na vida. Exigente, mandão, desfrutado* e tyranno. E o que mais desespera é ser um homem problemático. Não sabe nunca o que quer e ninguém conta com elle. É demais. Reagi logo e me veiu um ódio, um ódio e um nojo. Agora é a prisão. Morre papae, morre mamãe, veiu a minha fortuna. Radagasio apossou-se de