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Por essas varzeas tão ermas
Onde, perdidas e sós,
Ha tantas almas enfermas
De desesperos sem voz,

Onde tanto desdenhado
De Deus, que de certo o olvida,
Vive, até morrer, vergado
Ao pezo da propria vida,

Vais chamar, em altos gritos
Como si fosse a um dever,
Desamparados e aflictos
— Para o consolo de crer.

E de cazebre em cazebre
Onde gente, a vida inteira,
Vive de trabalho e febre,
Morre de fome e canseira,

Afirmas á angustia surda
Do mizero tabareu
Que o brejo em que elle chafurda
— É um caminho para o ceu.

A cada pobre praiano
Que, na sua dura lida
De afrontar o largo oceano,
Vive de arriscar a vida,