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AMERICANAS

Mão cruel a cortou. Oh! não permitta
O ceu que ímpia fortuna vos separe
Daquelle que escolherdes. Dor é essa
Maior que um pobre coração de espôsa.
Esperanças... Deixei-as nessas aguas
Que me trouxeram, complices do crime,
A' taba de Tupan, não allumiada
Da palavra celeste. Algumas vezes,
Raras, alveja em minha noite escura
Não sei que tibia aurora, e penso: Acaso
O sol que vem me guarda um raio amigo,
Que hade accender nestes cansados olhos
Ventura que ja foi. As azas colhe
Guanumby, e o aguçado bico embebe
No tronco, onde repousa adormecido
Até que volte uma estação de flores.[1]
Ventura imita o guanumby dos campos:
Accordará co'as flores de outros dias.
Doce illusão que rapido se escoa,
Gomo o pingo de orvalho mal fechado
Numa folha que o vento agita e entorna.»
E as virgens dizem, apiedando o gesto:
— «Potyra é como aquella flor que chora
«Lagrymas de alvo leite, se do galho
«Mão cruel a cortou!»

  1. Simão de Vasconcellos (Not. do Bras. liv. 2.°) citando Maregraff e outros autores, conta, como verdadeira, a fabula a que alludem estes versos. Aproveitou-se d′ali uma comparação poetica: nada mais.