NIANI
Desde então cobriu-se Nanine de uma mortal melancolia,
sendo seus olhos sempre chorosos. Assim se passaram trez
mezes, quando um dia, estando deitada na sua rustica cama,
lhe deram a noticia que seu desleal marido se tinha casado com
uma rapariga de menor esphera. Senta-se então Nanine na
rama, como arrebatada, chama para junto de si um pequeno
indio que era seu captivo, e diz-lhe na presença de varios antecris: «És meu captivo; dou-te a liberdade, com a condição
de que te chamarás todo a vida Panenioxe.» Então seus olhos
deixaram correr dilúvios de lagrymas pelas suas tristes faces,
que ella de envergonhada quiz occultar, mas o amor offendido
não o permittia. Parece que esta violenta contenda de duas
poderosas paixões lhe motivou uma febre ardente, com a qual
ao outro dia perdeu a vida.
F. Rodrigues Prado, Hist. dos Indios Cavalleiros.