suposição de ser levado a sério; pode ser um riso que expressa um certo medo ou incômodo diante do desconhecimento sobre si mesmo, ou até mesmo diante do medo em conhecer a si mesmo; ou, ainda, diante da incompreensão dos outros. Portanto, o poema pode revelar uma auto-ironia, mas não se resume a isso.

Por todo o livro de Distraídos Venceremos é possível identificar vários poemas que trazem a temática do “mistério”, por exemplo, o poema “Adminimistério, o que pode ser índice de um projeto maior. Porém a discussão torna-se curiosa ao constatar que na obra seguinte, La vie en close, livro póstumo publicado em 1991, há um poema que parece ser uma continuação do poema discutido anteriormente:

SUPRASSUMO DA QUINTESSÊNCIA

O papel é curto.
Viver é comprido.
Oculto ou ambíguo,
tudo o que eu digo
tem ultrassentido.


Se rio de mim,
me levem a sério.
Ironia estéril?
Vai nesse ínterim,
meu inframistério. (LEMINSKI, 2004, p. 38)

Os dois primeiros versos da segunda estrofe retomam diretamente o poema anterior: “Se rio de mim, / me levem a sério” é quase um eco do poema “rio do mistério / o que seria de mim / se me levassem a sério?”. Mas a diferença é que, antes, o objeto de riso era o próprio “mistério”, projetando-se numa indagação; agora, o objeto de riso é si próprio constituindo-se numa afirmação: “se rio de mim, / me levem a sério”. Isso gera algumas perguntas: quando o eu-lírico ri de si mesmo é para ser levado a sério, contrariando sua atitude jocosa? Ou o seu riso é que deve ser levado a sério? Ou, ainda, será uma armadilha para o interlocutor se perder numa rede de (im)possibilidades? E ao encarar esses versos como armadilha, qual caminho seria possível seguir?

Em primeiro lugar há uma oposição entre os dois últimos termos de cada estrofe – “ultrassentido” e “inframistério”, respectivamente –, gerada pelo prefixo morfológico de cada um.

“Ultra” designa o que está para além de, que transcende; associado ao termo

“sentido”, o neologismo designa dizeres que não se esgotam em sua acepção literal, constituindo outros sentidos que vão além do imediato. "Ultrassentido”, portanto, são as ambiguidades e os sentidos ocultados que possuem os “dizeres” do eu-lírico: “Oculto ou

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Anu. Lit., Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 154-169, 2016. ISSNe 2175-7917