alternância, que dá seguimento ao seu “inframistério”. Isso nos mostra que é a alternância que fundamenta todo o poema; um movimento de ir e vir, um movimento pulsativo. E a pulsação é o movimento que dá vida. É a alternância que mantém vivo esse eu-lírico. Entre o movimento de alternância, o momento em que se estabelece a relação de um estado a outro é um fator interessante de ser pensado. Ou seja, agora retornando a discussão do poema, a individualidade não se constitui per se, assim como não é somente fruto de uma alteridade: a individualidade se constitui na relação alterna entre os dois fatores. É sobre isso que versam os dois poemas: a relação alternada entre o indivíduo visto por si mesmo, em contraposição a um olhar externo: a diferença entre “rir de si mesmo” e “ser levado a sério”, constituindo uma individualidade.

Aqui podemos ressaltar a diferença entre os dois poemas: em “rio do mistério / o que seria de mim / se me levassem a sério?” o eu lírico se coloca no lugar de objeto do riso, o efeito imediato é de que os outros não lhe levam a sério. Talvez isso aconteça por conta do próprio eu-lírico, que se auto-ironiza e permite constituir esse efeito. Mas até que ponto a indagação é ela mesma uma auto-ironia, como pareceu ser numa leitura imediata e superficial? Até que ponto não serve de apelo ou como um meio para realizar uma autorreflexão, que por sua vez se torna mais evidente no poema “Suprassumos da Quintessência”? O “mistério”, portanto, é a busca pela compreensão da própria individualidade.

Os mistérios de Paulo Leminski

A temática do mistério não é algo isolado na obra poética de Paulo Leminski. No livro Distraídos Venceremos não são poucos os poemas que versam sobre o assunto, e o mesmo se pode dizer de La vie en close. É uma preocupação recorrente e pode indicar que seus poemas não se resumem em exercícios estilísticos, nem numa busca por uma dicção própria. Leminski quando escreve poesia, também pensa na vida, pensa em si mesmo, no lugar que ocupa e sente que ocupa no mundo, como se estivesse à procura de dar sentido à vida, algo natural da condição humana. Não é à toa que seu último livro intitula-se O exestranho, cuja nota introdutória traz esses dizeres:

Este livro de poemas, que ia se chamar O ex-estranho, expressa, na maior parte de seus poemas, uma vivência de despaisamento, o desconforto do not-belonging, o mal-estar do fora de foco, os mais modernos dos sentimentos. Nisso, cifra-se, talvez, sua única modernidade. (LEMINSKI, 1996, p. 19).

Ou seja, se os poemas expressam esse sentimento de not-belonging, de não pertencer,

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Anu. Lit., Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 154-169, 2016. ISSNe 2175-7917