de não ser aceito em lugar algum, constituem-se, por outro lado, como possibilidade de delimitar seu próprio espaço e de nele se encontrar.

Aliás, essa temática vai além de sua obra poética e também está presente em sua obra ensaística. A busca ou atribuição de sentido é discutida, por exemplo, no ensaio “O Tema Astral”, publicado no volume Ensaios e anseios crípticos (2012b). Leminski começa falando sobre a associação que muitos poetas fazem entre o céu estrelado e a poesia, em que tentam registrar uma correspondência entre o “céu estrelado” e a “página escrita”. Por outro lado há uma distância, um espaço “entre o mundo físico e o mundo totalmente humano do signo, isto é, da cultura” (LEMINSKI, 2012b, p. 77). Noutros termos, o “céu” corresponde à Natureza; a página, ao signo e, por extensão, ao Humano. O “mundo humano” é o dos significados. Não porque os humanos habitam um mundo que possui significado per se, mas é porque os humanos têm a capacidade de atribuir uma significação ao que a priori não tem. Dessa forma, a distância entre o “mundo físico” e o “mundo humano” diminui a partir do momento em que há atribuição de significado, pois desse modo passa a pertencer ao “mundo totalmente humano do signo”. “Nenhuma forma existe no céu. Nosso olhar é que organiza as estrelas em constelações” (LEMINSKI, 2012b, p. 78). E mais do que isso:

O céu tem uma mensagem para nós. Mas essa mensagem não vem do céu. Vem do nosso condão de dar significado às coisas, nomes aos bois, formas de constelação e aglomerados de estrela.

Vem do nosso desejo de viver um mundo totalmente humano, cultural, sígnico. A ênfase deve ser colocada num gesto primordial do home levantando o rosto para o céu estrelado, na noite primordial em que se fundaram os significados e uma vida propriamente humana começou.

[...] Logo estão vendo o brilho do signo e do significado contra o fundo indiferente e insignificante do firmamento estrelado (LEMINSKI, 2012b, p. 79-80).

A relação entre a capacidade humana de atribuir sentidos com o mistério reside na analogia entre “céu” e “página”: “Essa comparação céu-página é, misteriosamente, adequada. Misteriosamente quer dizer: essa adequação tem mistério, um demônio dentro dela” (LEMINSKI, 2012b, p. 76). Ou seja, é a categoria de “mistério” que caracteriza e justifica a relação entre “céu” e “página”, entre Natureza e Humano. “Mistério” é o sentido atribuído e constituído entre as duas instâncias. Isso fica mais evidente noutro ensaio, publicado na mesma coletânea supracitada. Vejamos:

BUSCANDO O SENTIDO

O sentido, acho, é a entidade mais misteriosa do universo.
Relação, não coisa, entre a consciência, a vivência e as coisas e os eventos.
O sentido dos gestos. O sentido dos produtos. O sentido do ato de existir.
Me recuso (sic) a viver num mundo sem sentido.

Estes anseios/ensaios são incursões em busca do sentido.

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Anu. Lit., Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 154-169, 2016. ISSNe 2175-7917