Por isso o próprio da natureza do sentido: ele não existe nas coisas, tem que ser buscado, numa busca que é sua própria fundação.
Só buscar o sentido faz, realmente, sentido.

Tirando isso, não tem sentido. (LEMINSKI, 2012a, p. 13)

Esse texto é uma espécie de introdução ao volume Ensaios e anseios crípticos, porém a reflexão feita pode iluminar e corroborar alguns aspectos que nos interessam. O “sentido” é caracterizado como a relação entre “a consciência, a vivência”, e “as coisas e os eventos”, isto é, entre fatores humanos e naturais, como discutido no texto anterior. Por ser uma relação, não se encontra em nenhum desses dois polos: não está nas coisas e o ser humano tem apenas a capacidade de constituí-los. É nessa interação, portanto que deve ser buscado o “sentido”: “ele não existe nas coisas, tem que ser buscado, numa busca que faz, realmente, sentido”. Ou seja, o gesto de busca fundamenta a criação de sentidos.

Cada ser humano é livre para traçar a sua própria busca pelos “sentidos”, seja para justificar sua existência, seja para conhecer, constituir sua própria individualidade ou o lugar que ocupa no mundo. No caso de Leminski, essa busca se fundamenta na prática da escrita: “Me recuso a viver num mundo sem sentido. Estes anseios/ensaios são incursões em busca do sentido”. Ou seja, seus poemas também podem ser englobados nesse sentimento de “anseio”, não se esgotando, em termos de análise, em jogos lexicais ou reflexões metalinguísticas. Obviamente é um fator que deve ser problematizado, uma perspectiva não exclui a outra. Tudo deve ser discutido com atenção, considerando as particularidades de cada caso.

É sintomático a maneira como Leminski caracteriza a categoria de sentido: “é a entidade mais misteriosa do mundo”. Ou seja, trata-se de uma “entidade” que, por sua vez, carrega consigo um “mistério”. Lembremos que no texto anterior Leminski disse que a relação entre “céu-página” – Natureza e Humano – era “misteriosa”, pois carregava consigo um “demônio”. O termo “demônio”, por sua vez, advém da língua grega: daimon, que significa “divindade”, “espírito” e, por extensão, “entidade”. A caracterização é a mesma nos dois textos. O mistério é a alma do sentido.

Com isso é possível desenvolver uma discussão levando em conta outro poema, pertencente ao livro Distraídos Venceremos. Vejamos:

ADMINIMISTÉRIO
Quando o mistério chegar,
já vai me encontrar dormindo,
metade dando pro sábado,
outra metade, domingo.
Não haja som nem silêncio,
quando o mistério aumentar.
Silêncio é coisa sem senso,

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Anu. Lit., Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 154-169, 2016. ISSNe 2175-7917