duas publicações e que pode acabar por minimizar a problemática racial ou até sugerir uma falsa igualdade quanto às representações.

Já a edição de julho de 2014 traria a jogadora de futebol Marta da Silva, enquanto a edição de outubro do mesmo ano teria a capa estampada pela atriz, branca, Betty Faria no filme Bye Bye Brasil, de 1979, acompanhada pelo ator negro Príncipe Nabor.

Enfim, embora retrate negros com mais frequência do que Claudia, TPM tambe'm acaba convergindo para uma discriminação quanto à raça ao se olhar esse espaço das capas, principalmente considerando-se que, no total, em análise geral das capas, os negros apareceram apenas 12 vezes ao longo de 11 anos de publicações e, ainda assim, em quatro momentos uma pessoa branca estampou a outra opção de capa da revista. Nesse contexto, mais do que se falar da imagem do negro da mídia, não seria o caso, então, de se falar em uma não-imagem do negro na mídia?

Pode-se supor que títulos direcionados especialmente para os negros e negras pudesse suprir essa lacuna, caminhando para uma mudança de posturas. De fato, a revista Raça Brasil, da Editora Escala, em circulação desde 1996, garante seus méritos, intitulando-se a primeira revista voltada para os negros do país. Porém, o próprio título reforça o pressuposto de que raça, no Brasil, é negra, como se fosse só a negra. O título também aponta para um eufemismo, como se, com “raça”, se pretendesse evitar a palavra “negra”. Outra questão é que a revista não deixa de cair nos estereótipos, def1nindo que “ser negro é ser alegre por natureza”, por exemplo (SCHWARCZ, 2012, p. 109).

É de se questionar ainda até que ponto essa segmentação seria positiva e se, ao colocar as diferenças como pressuposto de todos os discursos da revista, não acabaria por mais uma vez segregá-lo. Em um país onde a maioria da população é negra, a circulação de uma revista só para esse grupo pode servir para mantê-lo à margem, como se ele devesse ficar restrito àquele título, enquanto todas outras centenas de publicações seriam voltadas para os brancos ou, no mínimo, não-negros. Por isso, embora se tenha em vista a importância de canais exclusivos para os negros como forma de afirmação e com consequências positivas inclusive para a autoestima do grupo, defende-se, principalmente, uma representatividade bem maior para os negros em todos os demais títulos, incluindo as duas revistas em questão, uma vez que são parte integrante da sociedade brasileira, merecendo visibilidade e espaço.

Considerando-se essa realidade das capas, pode-se admitir que os meios de

comunicação, neste século 21, acabam sendo vias por meio dos quais se reflete e se reitera a subalternidade dos negros, à medida em que eles não têm voz. Assim, as desigualdades raciais

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Anu. Lit., Florianópolis, v.21, n. 1, p. 170-187, 2016. ISSNe 2175-7917