Na seção dedicada à prosa, há o terceiro capítulo, ainda inédito em livro, de um possível romance nomeado “Margarida”, publicado no folhetim Colombo, da cidade do Desterro – hoje, Florianópolis. Como afirma o organizador, “São traços ligeiros de um idílio sentimental, bem ao gosto do mais menoscabado romantismo, já ultrapassado [...]” (ALVES, 2013, p. 26), mas que revelam outra face do poeta em “seu projeto e do seu aprendizado como escritor”. (ALVES, 2013, p. 26). As outras prosas que se seguem revelam um Cruz e Sousa ora irônico, ora sarcástico, criticando a corrupção do gênio, do caráter de figuras de seu tempo, apresentando a degeneração do político em manter a velha prática dos favores, da “algibeira”, sem observar o que era indispensável à população.

Afeito aos valores humanistas, leitor de filosofia e de literatura, o poeta difunde os preceitos da Revolução Francesa, que lhes eram tão caros – a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Na crônica “A Bastilha” – homenagem ao aniversário do evento histórico – faz uma leitura da representação dessa edificação, de prisão de um Estado monarquista a símbolo da “autonomia dos verdadeiros cidadãos”. (ALVES, 2013, p. 56). Em “Praia do Menino Deus”, o tema é o da conservação de um bem público, melhor dizendo, um bem natural, a praia, frente ao desleixo dos políticos na inspeção, no cumprimento do dever de zelar desse patrimônio natural da cidade. E acreditando na impossibilidade de seu discurso, “[...] as chicotadas da nossa pena [...]” (ALVES, 2013, p. 58) não tocar ao poder público, o poeta delineia o papel da imprensa, de administradora do “bem estar do povo”, pensamento tão urgente quanto necessário aos dias de hoje.

Em “Trancos e barrancos”, assinado pelo pseudônimo Zé K., faz-se uma crônica do que a população não espera ver nos políticos. Entretanto, de maneira prodigiosa percebe-se que esses desejos são demonstrações de práticas e condutas já existentes nos mesmos. Por sua vez “Cousas e lousas” (ALVES, 2013, p. 63-64), trata de um evento importante, a queda do gabinete Dantas, encarregado de “solucionar” o “problema” da escravidão. Cruz e Sousa critica os políticos responsáveis pelo acontecimento e o povo que não protestou. Para o poeta, o exercício do poder possui duas faces: “se uma política esbanja os cofres públicos, outra diz que não há verba e vão continuando, a despeito de tudo, as faltas e as necessidades da terra.” E, dentre as necessidades, a mais importante era a libertação dos escravos.

Outros textos possuem características diferentes, mas todos parecem ter o mesmo

fim: ser oposição ao conservadorismo que não permite o “progresso da terra”, que deveria ser, para ele, república sem escravidão. Para isso, ele critica políticas, políticos e aqueles que, não sendo políticos, são correligionários destes. Tais textos revelam um Cruz e Sousa sem

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Anu. Lit., Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 198-202, 2016. ISSNe 2175-7917