Paulo Mendonça*

Resumo: No presente ensaio, analiso o texto não ficcional que Fiódor Dostoiévski (1821-1881) escreveu ao longo de suas viagens pela Europa em 1862, Notas de inverno sobre impressões de verão (1863) – obra de caráter aparentemente despretensioso e que não obedece ao rigor formal de nenhum gênero literário específico. Em princípio e de forma breve, importa-me destacar a origem da palavra modernidade à luz da investigação etimológica do termo empreendida pelo teórico alemão Hans Robert Jauss (1921-1997) e da concepção elaborada pelo poeta e crítico francês Charles Baudelaire (1821-1867), especialmente em seu poema À une passante. Em seguida, alguns dos principais trechos de Notas de inverno... referentes às descrições físicas das cidades serão comentados de modo a pôr em evidência, sobretudo, o olhar crítico com o qual Dostoiévski observava as transformações pelas quais passava a Europa (notadamente as capitais Paris e Londres) durante a segunda metade do século XIX.

Palavras-chave: Dostoiévski. Modernidade. Europa.

Na extensa bibliografia crítica sobre a obra de Fiódor Dostoiévski (1821-1881), pouca atenção se dá a um texto não ficcional de sua autoria escrito durante a primeira viagem que o escritor russo fez pela Europa na década de 1860, mais precisamente durante o verão de 1862. Notas de inverno sobre impressões de verão (1863), embora não apresente a genialidade do Dostoiévski romancista, merece a atenção daqueles que estiverem interessados em um olhar crítico acerca do desenvolvimento urbano-cultural de algumas das principais cidades europeias do século XIX. Trata-se de um período de grande importância para o

entendimento do conceito de modernidade, que seria elaborado e utilizado pela primeira vez pelo poeta e crítico francês Charles Baudelaire (1821-1867). Aliás, antes de nos debruçarmos nas anotações de Dostoiévski que constituem as Notas de inverno..., é fundamental que elucidemos brevemente qual era a visão de Baudelaire a respeito do próprio sentido da

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* Mestre em Estudos de Literatura pela Universidade Federal Fluminense e graduado em Letras, Português e Literaturas, pela mesma instituição. Contemplado com a Bolsa de Excelência Acadêmica da UFF em 2015, estudou Língua Francesa e Literaturas Francófonas na Université de Sherbrooke (Québec - Canadá). Atualmente, cursa sua segunda graduação em Letras, Português/Francês, e participa do grupo de pesquisa “Leitura, Literatura e Formação do Leitor” (UFF). E-mail: <paulo_plana@hotmail.com>.

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Anu. Lit., Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 70-80, 2016. ISSNe 2175-7917