explorar a potência não-humana do narrador. Assim, ao olhar, refletir e escrever sobre o inumano, registra um pensamento em crise, aquele cuja origem e fim não são mais regidos pelo homem. Nesse contexto, a autora se propõe a pensar uma rede de narradores de distintas épocas com a intenção de identificar a permanência da animalidade nessas escritas.

Já Eduardo Marks de Marques e Raíssa Cardoso Amaral, em O percurso doloroso entre a prática e a teoria: reflexões sobre a personagem Urania em “A festa do bode”, de Mario Vargas Llosa, trabalham com o entrelaçamento de memória e trauma na narrativa da personagem Urania. A intenção é a de discutir as marcas deixadas pela ditadura da Era Trujillo, na República Dominicana, nessa personagem. Com isso, os autores exploram a relação e os desdobramentos entre a vivência histórica e o conhecimento histórico, o que denominam de o “percurso entre e teoria prática”, com a intenção de demonstrarem como se deu a reconstrução da identidade dominicana em Urania.

Por sua vez, Anderson de Oliveira Lima, com Gregório de Matos, nosso primeiro antropófago, argumenta em favor da hipótese de que Gregório de Matos foi o primeiro antropófago do Brasil. Para isso, o autor situa o leitor a respeito da polêmica em torno da obra de Gregório de Matos e, posteriormente, trabalha com o pressuposto de que os poemas desse autor já apresentavam características próprias do movimento antropofágico, concebido por Oswald de Andrade na década de 1920.

Com Imagem-palavra: a iconicidade da escrita em “Relato de um certo oriente”, de Miltom Hatoum, de Daiane Carneiro Pimentel, retornamos simbolicamente ao nascedouro icônico da escrita. Isso porque a autora procura demonstrar que o romance supracitado traz uma aproximação entre as formas verbais e visuais a partir da “referência ao alfabeto árabe”, da “leitura da borra de café”, das “formas expressivas de Soraya Ângela e ao cometa escrito/desenhado por Dorner.”.

Em Impressões russas da modernidade: Dostoiévski em viagem pela Europa, Paulo Mendonça analisa Notas de inverno sobre impressões de verão, literatura de viagem, de fundo memorialista, que Dostoiévski redigiu quando viajava pela Europa em 1862. Para essa reflexão, Mendonça aborda a origem do vocábulo “modernidade” para, seguidamente, partir para o texto de Dostoiévski com intuito de destacar a criticidade com que o autor russo se propunha a falar sobre as transformações da Europa ao longo da segunda metade do século XIX.

Na sequência, André Rocha Leite Haudenschild, em A experiência revisitada: as artimanhas naturais da narrativa rosiana, convida-nos a pensar a prosa de Guimarães Rosa

8

Anu. Lit., Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 7-10, 2016. ISSNe 2175-7917