o tronco; a seiva criadora substitui quanto a mão do homem corrige; mas se descuidado deixa que a planta cresça com seus defeitos, pode cortar-lhe o galho rasteiro, forçar-lhe a haste arqueada; a árvore ficará mutilada, porém sempre mal parecida.

Assim é o livro: assim foi com as ASAS DE UM ANJO.

Depois de concluída a comédia e representada; depois de partido esse fio que prende a obra ainda inédita ao espírito que a criou, era possível matar o livro; mas torcer-lhe o molde, dar-lhe outra configuração, excedia à vontade e às forças do autor. Creio mesmo que tudo quanto saísse dessa superfetação literária seria monstruoso e disforme.

Prefiro pois — embora reconheça até certo ponto a justeza da crítica — deixar a comédia com os seus defeitos, mas com a espontaneidade de sua invenção. As criações da imaginação também têm a sua virgindade: e muitas vezes a razão não se anima a corrigi-las, com receio de murchar-lhes a flor.

As alterações que fiz no original, levado à cena, e aprovado pelo Conservatório, são unicamente de estilo; castiguei a frase quando não me pareceu natural; dei em alguns pontos melhor torneio ao diálogo; mas na ação dramática, e no pensamento que ela exprime, nem de leve toquei.