Na mesma linha, de acordo Bauman (2003), toda unidade coletiva precisa ser construída, e um acordo "artificialmente" produzido é a única forma disponível para tal unidade. Em uma comunidade o entendimento comum só pode ser uma realização após um longo e difícil processo de argumentação e persuasão. O acordo comum nunca estará livre da memória desses embates passados e das escolhas feitas ao longo dele. Ainda, propõe que o acordo nunca ficará imune à reflexão, contestação e discussão; quando muito atingirá um patamar de "contrato preliminar", um acordo que precisa ser periodicamente renovado, sem que qualquer renovação garanta a renovação subseqüente.

Silveira (2006) analisa o tema da comunidade com o intuito de contextualizá-lo frente às mudanças ocorridas na sociedade digital da contemporaneidade. Segundo o autor,

"o conceito de comunidade não é consensual em ciências sociais. Muitas são suas definições e classificações, entretanto, boa parte delas vinculam a comunidade a um território especificamente limitado e a proximidade de seus membros. Em geral, sociólogos empregam este termo para grupos de pessoas que convivem numa associação face a face, em um espaço geográfico pouco extenso." (...) "a singularidade e identidade distintas diante dos outros são também freqüentemente apontadas como características de uma comunidade. Obviamente a acepção vinculada à idéia de espaço e de presença física é muito limitada para enquadrar o fenômeno das comunidades distantes e ligadas a partir da comunicação mediada por computador." (SILVEIRA, 2006, p.76)

Nesse sentido, o autor apresenta a inconsistência da territorialidade no momento da definição do que é uma comunidade frente aos avanços tecnológicos.

Para Bauman (2003), a comunidade realmente existente se parece com uma fortaleza sitiada, continuamente atacada por seus inimigos (indivíduos, classes sociais, coletivos) de fora e freqüentemente assolada pela discórdia entre seus membros.

O autor ressalta o paradoxo entre segurança e liberdade, uma vez que a promoção da segurança sempre necessita sacrificar a liberdade, enquanto esta só pode ser aumentada à custa da segurança. Deste modo a vida em comum se transforma num conflito interminável, "pois a segurança sacrificada em nome da liberdade tende a ser a segurança dos outros; e a liberdade sacrificada em nome da segurança tende a ser a liberdade dos outros." (BAUMAN, 2003, p.24)