as obrigações dos Soberanos, que ainda que tenham o valor de Aquiles, a riqueza de Creso a prudência de Platão, e a constância de Catão, se a estas virtudes faltarem outras de que também se alimenta o bom nome entre seus súditos, lhes fará mais guerra a inveja, que se não descuida em procurar os descuidos dos que têm virtudes.

Não repugna a prudência, mas a acredita a bondade do Rei, que comunica as cousas árduas a seus fiéis, e sábios familiares; porque de sorte, que sabendo-se que os ouve, não se entenda que o governam: assim como é preciso ouvir aos vassalos, e não os tratar com desabrimento; porque não consiste a Majestade na aspereza de tratar as gentes, pois em quanto não são despachados, não é justo que vivam queixosos, e por que o Soberano se faz amável pela bondade, e não pela autoridade. Também é preciso refletir que a demasiada soltura tem arruinado muitas Repúblicas; pois nunca os Gregos, os Epirotas, e outras nações puderam sujeitar as que assolou, e perdeu a muita liberdade, porque esta não carece de menos prudência para conservar-se, que de valor para se ganhar. Nas Repúblicas mais bons infamam, e mais furtos fazem dous homens livres, que duzentos sujeitados. Não há