para não ouvires lisonjas, desprezando a indiscreta vaidade! Quem pudera chegar com estas vozes a teus ouvidos, para que fosses na verdade desenganada do pouco, que vale uma vida inconstante, se não adquire um descanso imenso! Ai, filha das minhas entranhas, quanto é limitado o sensitivo dos pais, ainda para receiar os desacertos dos filhos! Quem dissera que os regalos com que foste criada haviam de degenerar em misérias, e desamparos, pois te considero escrava desprezível: em que parou o recato, e gravidade, com que foste educada? Eu te resguardava dos olhos das gentes, porque sabia que no teu estado são tão sublimes os esplendores da beleza em uma Senhora, que mais se contemplam, que se comunicam; agora sem resguardos te choro em mãos inimigas. Nestas considerações, e tristes vezes uma dor veemente; ou paixão radicada me rendia a Morfeu: mas como o cuidado é oposto ao descanso, tornava logo a despertar, dizendo: Mas como dos meus braços te arrebataram sem acordo? Talvez que o susto te usurpasse de todo o brando alento. O dura Parca! Uma vez seríeis benigna, se cortásseis por uma vida tão sujeita a contratempos. E assim só me sossegava o julgar-te nas mãos da morte; mas já vejo que os Numes compassivos te resguardaram, para que uma