Também reparai, ó serranos, que nem todos os conhecidos são capazes para amigos; porque os que não forem honestos, e benquistos, será melhor estimá-los, se em alguma cousa o merecem, que conservá-los particularmente; não só pelo mal, que podem obrar, mas também pelo que os maliciosos suspeitam dos maus; e porque vos não enganem os que adiantam muito os passos da amizade para chegarem à conversação particular, o que muitas vezes sucede com os moços mal precedidos, e ociosos. Esta cautela é muito mais precisa na Corte, onde há muitos, que merecem estimação, e muito poucos, que merecem estimação, e muito poucos, que mereçam se lhes confiem os sentimentos internos. Em toda a parte é o afeto da boa amizade mais permanente que o amor da sangüinidade: porque a cordialidade dos parentes poucas vezes dura, e o afeto da amizade rara vez acaba; as suas leis prometem muitos guardar, e as sabem guardar muito poucos, pois são indispensáveis os preceitos de prestar, defender, e acompanhar; pelo que é infelicidade o não ter uma, e grande o trabalho de ter muitas; e as que são verdadeiras, ou falsas, só se conhecem quando a fortuna se retira; porque a esta sempre seguem os mais, assim como à virtude os melhores. Conclui Delmetra este discurso, em que