Deixamos de Maſsilia a eſteril costa
Onde ſeu gado os Azenegues pastão,
Gente que as freſcas agoas nunca goſta
Nem as eruas do campo bem lhe abaſtão:
A terra a nenhum fruto em fim deſpoſta,
Onde as aues no ventre o ferro gastão,
Padecendo de tudo extrema inopia
Que aparta a Barbarîa de Etiopia.

Paſſamos o lemite aonde chega
O Sol, que pera o Norte os carros guia,
Onde jazem os pouos, a quem nega
O filho de Climêne a cor do dia:
Aqui gentes eſtranhas laua & rega
Do negro Sanagâ a corrente fria,
Onde o Cabo Arſinario o nome perde
Chamando ſe dos noſſos Cabo verde.

Paſſadas tendo ja as Canareas ilhas
Que tiuerão por nome Fortunadas,
Entramos nauegando pollas filhas
Do velho Heſperio, Heſperidas chamadas
Terras por onde nouas marauilhas
Andarão vendo jaa noſſas armadas,
Ali tomamos porto com bom vento
Por tomarmos da terra mantimento.