Agora com pobreza auorrecida,
Por hoſpicios alheios degradado,
Agora da eſperança ja adquirida,
De nouo mais que nunca derribado:
Agora aas costas eſcapando a vida,
Que dum fio pendia tam delgado,
Que não menos milagre foi ſaluarſe,
Que pera o Rei Iudaico acrecentarſe.

E ainda Nimphas minhas não baſtaua,
Que tamanhas miſerias me cercaſſem:
Senão que aquelles que eu cantando andaua,
Tal premio de meus verſos me tornaſſem
A troco dos deſcanſos que eſparaua,
Das capellas de louro que me honraſſem,
Trabalhos nunca vſados me inuentârão,
Com que em tam duro eſtado me deitârão.

Vede Nimphas que engenhos de ſenhores
O voſſo Tejo cria valeroſos,
Que aſsi ſabem prezas com tais fauores
A quem os faz cantando glorioſos:
Que exemplos a futuros eſcriptores,
Pera eſpertar engenhos curioſos,
Pera porem as couſas em memoria,
Que merecerem ter eterna gloria.