é o sinal de origem que, marcando a imperfeição do homem, sublinha a divindade do Poeta.
O pensamento vulgar, não subindo acima das mais próximas realidades, ignora a natureza e o valor do simbolismo, chegando a supor que os símbolos poéticos são artifícios decorativos com que o Poeta procura deleitar-nos a sensibilidade.
Daí a ideia dum maravilhoso que, como as decorações dos arraiais minhotos, passa de poeta em poeta.
Se conhecer é relacionar, é sempre uma atenuada ou viva analogia a alma do próprio conhecimento, que da sciência à arte é sempre, embora diferentemente, um simbolismo.
O simbolismo pagão é a grande concepção estética da Natureza e da Vida. As contradições entre o homem e a natureza resumem-se ainda às relações de silencio e convivio, que o homem encontra e harmoniza na quási tangibilidade dos deuses mal escondidos ainda no seio duma natureza amiga.
O murmúrio da floresta é quási o sôpro, repousado e possante, duma respiração imensa; a tremulina de luz, que percorre o ribeiro quando um ruído se ergue do estremecimento do canavial, é o próprio corpo da Frescura a caminhar; o bulício das selvas multiplicando e fecundando a vida é a própria Vida espalhada e vagabunda juntando-se para crescer; o silêncio pontiluzente, meditativo e severo, da Noite estrelada é a própria serenidade da distância a olhar: sátiros, ninfas, hamadríadas, nereidas, faunos e deuses passeiam por entre os homens...
O mundo é a convivência ingénua, mas já os dragões e as serpentes de novo assustam e repelem a sensibilidade do homem.
Êle terá de reencontrar a companhia a dentro de si mesmo...
Se o corpo de Vénus é feito da espuma do Mar, a Virgem Maria é a mais alta e translucida espuma da Alma.