estremecer infinitamente a bruteza penhascosa do seu corpo.
«Converte-se-me a carne em terra dura,
Em penedos os ossos se fizeram;
Estes membros que vês, e esta figura
Por estas longas agoas se estenderam:
Emfim, minha grandissima estatura
Neste remoto cabo converteram
Os deoses; e por mais dobradas magoas,
Me anda Thetis cercando destas agoas».
O seu corpo é beijado pelas mil bôcas do amor que o devora, e, abraçado à névoa do corpo amado, sobe liberto o seu desejo, penetrando em lágrimas as funduras oceânicas em que se abisma.
E chora, chove, desfaz-se a nuvem negra e de novo o Sol reaquece mais desejos...
¡Alma sedenta da Pátria, inextinguivel fome de imortalidade, com o amor cravado no mais intimo do seu querer!
¡A fisionomia espiritual da Pátria traçada a fogo no próprio coração do Infinito!
E lá vai Vasco da Gama num Mar, que não é do Planeta, levando a raça numa Viagem sem termo a ouvir e libertar Adamastores, correndo num pacifico Oceano de Memória a sua eterna aventura religiosa.
E, cantando com o Poeta, tôdos nós somos já espectros duma outra vida, formas duma luz transcendente penetrando o planeta dos estremecimentos do Infinito.
É a Grande Viagem: O Gama ao leme, o Poeta fazendo do seu canto o próprio Oceano em que vogamos, e nós, reconciliados com Êle, em êxtase, cantando a beleza profunda e eterna das almas...
Faça cada português as suas pazes com Camões e, de novo, no Infinito, radiosa e feliz, a Pátria há de sorrir...
(Disse).