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Poeta ergue à Consciência os mais incoerciveis movimentos da alma, e assim o Poeta filtra no episodio a sua parte de eternidade, eleva sôbre os individuos transitórios a fisionomia espiritual das Pátrias, da Humanidade e Deus.

O Poeta gera o Sábio e o Santo.

O Santo é o homem do plano superior voluntariamente dado em sacrifício para que a luz divina, que o consome, guie e exalte os homens à transcendência de uma vida superior.

O fogo purifica as podridões, a dor faz do sofrimento quotidiano uma coluna de fogo apontando os novos destinos e rumos.

O Santo vive, na labareda do momento, o incendio da eternidade.

Dá o seu corpo ao sacrificio para que, no vazio que se fórma, as ondas da Memória se insinuem e aumentem o seu contacto com a terra, para que os abraços dessas ondas se alarguem e cinjam todas as almas suplices.

O Santo é o Poeta praticante, as suas Canções penetram-lhe e modelam os lábios, são seres vivos caminhando, humildes e amorosos, a cuidar as chagas que, em nós, fizeram as mordeduras da Morte.

O Sábio é o Poeta vagaroso: debruçado sobre a ponte, não vai em companhia das vidas que fogem a cercá-las das águas da Memória para que vivam e se não percam, espera que regressem e na repetição do que passou vê a grande unidade convivente de tudo o que existe. Procura a identidade que une os seres, espera na repetição o reaparecimento do que transita. A sua luta pela Consciência é a mais humilde e serena.

A consciência scientifica é cheia de abdicação do que é própriamente humano, comovida de respeito pela Unidade social do Universo.

O ascetismo do sábio, feito da possivel abdicação dos planos superiores, leva-o à mais completa compa-