XXI


PALAVRAS D'UM SCEPTICO


I

Eu não escalo as rochas de granito,
Eu não transponho as vastidões do mar,
Nem vou rasgar o ventre do infinito,
Passo a existencia, inerte e sem pensar.

Não sei se Deus existe, ou se é um mytho,
Imposto á crença para atormentar
Da humanidade o largo peito afflicto,
Em noites de negrume, sem luar.

Vivo n'uma anciedade indefinida,
Cheio de Raiva, ensanguentado e vil,
Sem mesmo comprehender o que é a vida,

Ai! talvez seja um lugubre covil,
Uma passagem horrenda e dolorida
D'um mundo mau a um outro mais gentil.